sexta-feira, 18 de outubro de 2013

[Entrevista] Filipe Paixão, um jovem arquitecto promissor

O Portal APM foi conhecer o jovem arquitecto português Filipe Paixão, recentemente 3º classificado no concurso OpenGap (2013) com o projecto Casa para Fernando Pessoa e os seus Heterónimos. Apesar da sua juventude, apresenta já um espaço proprio na sua procura pela arquitectura e aceitou dar a seu contributo ao nosso portal.









[BIOGRAFIA]

O Filipe Paixão (1987) é um jovem arquitecto português com uma actividade profissional nómada. Viveu em Almada, formou-se pela Universidade Lusíada de Lisboa, estagiou em Copenhaga e por agora colabora no gabinete And-Ré no Porto. Desenvolveu diversos concursos tanto em atelier, como a titulo individual.

http://cargocollective.com/filipepaixao
 
[ENTREVISTA] 
APM Qual a tua opinião acerca do estado actual do ensino e da profissão da arquitectura em Portugal?

FP Há pouco tempo, em conversa com o meu ex professor meu Nuno Távora, ele dizia-me: "Pois é Filipe, parece que a profissão para a qual vos preparámos não é possível de se exercer". De facto esses valores que nos foram ensinados na faculdade, ainda que muito assertivos alguns deles, têm pouco impacto na actividade profissional. Existe um gap muito grande entre realidades. O modelo de ensino prepara-nos para actuarmos dentro de parâmetros que já não são suficientes para nos mantermos competitivos a nível global enquanto arquitectos, vendendo a ideia de que uma actividade profissional bem-sucedida se baseia inteiramente nas capacidades criativas de cada um. Actualmente já não é assim, com muita pena minha e de muitos meus colegas. A realidade tem-se mostrado mais madrasta. As oportunidades não surgem com facilidade e a actividade do arquitecto obriga a uma consciência muito mais abrangente do que nos rodeia. Tens que estar tão atento ao novo projecto do Koolhas como às oscilações dos mercados económicos ou à realidade demográfica do(s) país(es), entre dezenas de outros factores que influem directamente na profissão, e podem ditar as oportunidades. Negligenciar isto é, infelizmente, comprometer a sobrevivência na profissão.

Desafios Urbanos 2012, Home Made Start-Up - Filipe Paixão + Mário Serrano + Margarida Fonseca + João Cravo

APM Como vês o seu futuro?

FP Procuro ser optimista, ainda que com as devidas reservas. A emigração que agora é imposta aos recém-licenciados por força da crise pode surtir efeitos muito positivos em Portugal no futuro. Começam já a surgir novas práticas muito interessantes (mais ou menos importadas), que se souberam adaptar ao actual panorama e estabelecem novos campos para a actuação do arquitecto, que não se esgota na produção projectual. Esses "colectivos" trouxeram uma reformulação da profissão, autonomizando-a e tornando-a pró-activa, ao mesmo tempo que reaproximaram a arquitectura (em conjunto com outras áreas) da sociedade. É uma procura necessária e que espero que no futuro consiga mudar a forma como a sociedade vê o arquitecto, e que este compreenda o alcance que a sua actividade pode ter.


APM Como foi a tua experiência profissional na Dinamarca? 

FP A experiência nos EFFEKT teve aspectos muito positivos. Da minha parte havia uma curiosidade em perceber o que estava por detrás do hype que a arquitectura dinamarquesa estava a ter, e que parecia ser vítima de alguma reprovação dos mais fundamentalistas arquitectos nacionais. Lá, ganhei a consciência de uma abordagem diferente, menos centrada no desenho e no lugar é certo, mas com um carácter social muito grande. Existe essa obrigação, de que cada edifício não se esgota na sua função mas deve complementarmente, oferecer algo à cidade e à população. É isso que se espera do arquitecto e do conjunto de pessoas que concorrem para a concretização dos edifícios. Outro aspecto é esse mesmo, o da noção que a arquitectura é inevitavelmente um processo multidisciplinar e de equipa. No primeiro projecto em que tive oportunidade de colaborar, o da renovação da fábrica original da Carlsberg num centro de visitantes da marca, a equipa era composta por arquitectos, designers gráficos, designers culturais, especialistas em branding empresarial e engenheiros. Cada um deles com projectos fantásticos no currículo. Presenciar reuniões com toda esta gente, e perceber como cada um contribuía gradualmente para o resultado final foi das experiências mais positivas que tive lá. Isso e comer salmão todos os dias. 

CARLSBERG BREWHOUSE (2012) Effekt, Arthesia, Loop Associates, UIWE, Niras

APM Que aspectos da prática da arquitectura na Dinamarca aplicarias em Portugal?

FP À partida seria desejável que essa consciência social da arquitectura nórdica tivesse uma aplicação em Portugal, mas não creio que seja realista. Isso acontece lá porque o contexto o permite e cultiva. Existe uma população informada e culta que aceita as opções do arquitecto porque o crê como a pessoa indicada para actuar, existem promotores conscientes das mais-valias dessa postura e que se orgulham em promover edifícios com esse carácter, e por fim arquitectos que procuram conciliar e respeitar os desejos de todos juntamente com as limitações próprias de cada projecto. São questões culturais que não se podem transpor facilmente para outro contexto. Por outro lado, se existe herança que trouxe de lá e, essa sim, creio ser possível implementar, é a capacidade (e necessidade) de uma comunicação assertiva. De sabermos mostrar, de uma forma simples e acessível, a importância do que nós arquitectos fazemos, sem discursos rebuscadamente eruditos ou as clássicas camisolas de gola alta pretas. Mostrar abertamente o que as pessoas têm a ganhar com o nosso trabalho e de que forma podemos melhorar a vida delas.

Concurso Ponte Pedonal (2011) Menção Honrosa - Filipe Paixão + Ismael Prata + Pedro Sequeira + Ricardo Ribeiro

APM Fala-nos um pouco dos concursos que tens feito. Qual o balanço que fazes dos resultados e dos benefícios que te têm trazido?

FP Os concursos são uma prática manifestamente ingrata, ainda que necessária actualmente. São uma espécie de tiro no escuro, mas a falta de outras oportunidades obriga a isso. No fim, são incontáveis as horas de trabalho que parecem inconsequentes por não terem o resultado desejado. Por outro lado, têm o benefício de aprenderes pelo erro, de continuamente tentares perceber o que fizeste de menos bem que outros fizeram melhor, de que forma podes melhorar e acertar para a próxima. O processo tem tanto de positivo como de frustrante. Grande parte da minha experiência profissional é baseada em concursos, inevitavelmente a maioria deles perdidos. A título pessoal tento que os concursos que faço sirvam para desenvolver perspectivas que não tenho oportunidade de concretizar em atelier. Servem essencialmente para a experimentação de temas sobre os quais, num dado momento, tenho curiosidade em resolver. Logo são muito heterogéneos (arranha-céus, habitações, reabilitações urbanas,etc.). No fim o balanço tem sido positivo, ainda que à margem das ambições que se têm quando se começa um concurso. Tenho conseguido alguns bons resultados tanto a nível nacional como internacional, não muito expressivos mas suficientes para ter o alento de continuar. O mais recente, a "Casa para Fernando Pessoa e seus heterónimos", é o melhor exemplo disso, com um 3º lugar entre centenas de concorrentes de vários países.

Concurso OpenGap (2013) 3º Lugar - Casa para Fernando Pessoa e seus Heterónimos

APM O que planeias para o teu futuro a nível profissional?

FP Infelizmente a resposta a isso é mais complicada do que eu gostaria que fosse. Neste momento estou a trabalhar em Portugal e o desejo é que assim continue, mas existe sempre uma grande incerteza. Havendo uma oportunidade que seja benéfica, será sempre essa a minha escolha, caso contrário a opção é forçosamente (voltar a) emigrar.

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A equipa do Portal Arquitectos Portugueses no Mundo, agradece ao Arquitecto Filipe Paixão a disponibilidade para a realização desta entrevista e a partilha do seu testemunho.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

[Entrevista] João Barbosa, um Arquitecto Português no México

João Pedro Barbosa, Arq.
João Barbosa é um arquitecto português a viver uma aventura americana, mais concretamente no México.
Colabora no gabinete de arquitectura SAC (Studio de Arquitectura y Ciudad) do Arq. Armando Birlain, equipa que ganhou recentemente o primeiro prémio do concurso internacional de arquitectura The Micro House Ideas Competition, em Denver.
É um jovem arquitecto pelo mundo e aceitou dar ao portal APM o seu depoimento.




[BIOGRAFIA]
João Pedro Barbosa (Porto, 1985), Mestre em Arquitectura pela Universidade Lusíada do Porto em 2009, com a dissertação: Da Substância da Ausência em Louis I. Kahn – o tesouro das sombras, sob a orientação do professor doutor Joaquín Soria Torres.
Em 2007 faz uma viagem pela Europa, visitando vários países, Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Holanda e Suíça. Colabora com o arquitecto João Laranja Queirós entre 2009 e 2013, participando, entre outros, no projecto de duas habitações em Canidelo 1+1=1. Em 2011 faz uma viagem ao México, onde visita algumas das obras do arquitecto Luís Barragán. Colabora com a arquitecta Carla Carvalho em 2011 e 2012. Colabora com os arquitectos Bruno Barbosa, Inês Ferreira, Pedro Costa e Sandra Paulo, explorando a complementaridade dos seus elementos, num espaço de discussão e criação arquitectónica, tanto na sua forma de projecto como nas suas variáveis interdisciplinares, desenvolvendo uma intensa pesquisa projectual através da participação em inúmeros concursos nacionais e internacionais em 2011 e 2012. Participa no Workshop do arquitecto Japonês Kengo Kuma em 2012 e faz uma colaboração pontual com o arquitecto russo Shamsudin Kerimov em 2013. Na actualidade trabalha no gabinete SAC – studio de arquitectura y ciudad.


[ENTREVISTA]
APM Fala-nos um pouco sobre o teu percurso académico e das tuas experiências profissionais em Portugal.

JB O meu percurso académico foi feito inteiramente na Universidade Lusíada do Porto, entre 2003 e 2008, terminando o mestrado com a dissertação “Da Substância Da Ausência em Louis I. Kahn – O Tesouro Das Sombras” em 2009.
Fiz o meu estágio profissional no gabinete de arquitectura do arquitecto João Laranja Queirós, com o qual colaborei até Fevereiro de 2013. Entre os projectos mais significativos destacam-se as casas em Canidelo (1+1=1), uma das obras vencedoras do 10º ciclo World Architecture Community Awards.

Casas Canidelo (1+1=1), Gaia - uma das obras vencedoras do 10º ciclo World Architecture Community Awards

Trabalhei também no gabinete de arquitectura da arquitecta Carla Carvalho, em 2011 e 2012.
Colaborei com os arquitectos Bruno Barbosa, Inês Ferreira, Pedro Costa e Sandra Paulo, explorando a complementaridade de todos os elementos, num espaço de discussão e criação arquitectónica, tanto na sua forma de projecto como nas suas variáveis interdisciplinares, desenvolvendo uma intensa pesquisa projectual através da participação em inúmeros concursos nacionais e internacionais em 2011 e 2012, dos quais se destaca o 5º lugar no concurso público de concepção para a elaboração do Projeto de Remodelação da antiga Estação do Caminho de Ferro de Mora/ Estação Imagem, Portugal.
Participei no Workshop do arquitecto Japonês Kengo Kuma em 2012 e fiz uma colaboração pontual com o arquitecto russo Shamsudin Kerimov em 2013.
 
5º prémio - Concurso Estação imagem, Mora

APM O que te levou a emigrar para o México?  

JB Em 2011 fiz uma viagem ao México, com o pretexto de conhecer algumas das obras do arquitecto mexicano Luis Barragán, onde descobri espaços com uma atmosfera única, “as caricias da penumbra e os mistérios da obscuridade”, a luz calma e vibrante, revela-nos juntas, reflexos, texturas, favorecendo o repouso, todos os sentidos são estimulados de forma subtil, usando as palavras de Álvaro Siza, “uma arquitectura que nos envolve como presença física, simples e densa”.
 
Teotihuacan - México
No processo de preparação da viagem fui conhecendo também os conceitos e obras de outros arquitectos mexicanos, que me despertaram algum interesse, tanto pelo uso e domínio técnico dos materiais tradicionais, como a importância dada aos espaços “entre” em cada intervenção. Em Março de 2013, surgiu a oportunidade de trabalhar no gabinete de arquitectura do arquitecto Armando Birlain (SAC – studio de arquitectura y ciudad), que me pareceu muito interessante e desafiante, pelo facto de trabalhar num contexto muito diferente do que conhecemos em Portugal, tanto a nível arquitectónico, como social e cultural. Uma oportunidade para trabalhar nos extremos, podendo num dia estar a fazer um projecto de caris social para pessoas extremamente carenciadas e no dia seguinte um projecto de completamente oposto, e encarar os dois com a mesma paixão, encontrando a forma que realiza com eficiência e beleza a síntese entre o necessário e o possível, tendo em atenção que essa forma vai ter uma vida, vai constituir circunstância.


APM Como foi a adaptação ao país? 
 
JB Estou no México á poucos meses e a adaptação ao país esta a ser gradual, é uma mudança cultural significativa, desde a aprendizagem da língua, o clima, os horários, a comida, até aos simples odores que nos invadem passeando pela cidade. As pessoas são muito acolhedoras para os estrangeiros e ajudam sempre que possível, o que torna a adaptação mais fácil, fazendo esquecer por momentos muitas das diferenças e saudades de Portugal..


APM E a adaptação a nível profissional?

JB A adaptação a nível profissional foi mais fácil, a arquitetura tem uma linguagem universal. Trabalho com arquitectos com uma formação distinta, o que é muito enriquecedor, pela partilha de conhecimentos e ideias, reflexionando sobre a natureza da arquitectura e a essência e a vontade de ser das coisas, sempre com o objectivo de criar ambientes estimulantes aos sentidos do Homem, para o seu bem-estar, para lhe transmitir algo, ou até para o ensinar.


APM Estás satisfeito a nível profissional?

JB Sim, estou satisfeito a nível profissional, o gabinete (SAC – studio de arquitectura y ciudad) tem vindo a realizar projectos interessantes e em poucos meses de trabalho ganhamos o primeiro prémio do concurso internacional de arquitectura “The Micro House Ideas Competition” em Denver, concurso no qual participei. Espero com o tempo adquirir cada vez mais conhecimento e ter a oportunidade de intervir na sociedade de maneira mais significativa.

1º prémio - Concurso The Micro House Ideas Competition, Denver

APM E a nível pessoal e social?

JB A nível pessoal e social também estou satisfeito, todos os dias algo me surpreende e há coisas novas para aprender e partilhar. As pessoas têm uma cultura muito forte pelas viagens, pela exploração e descoberta dos vários costumes e tradições existentes no país e no estrangeiro, o que me motiva a conhecer cada vez melhor o país e as suas gentes, partilhando experiências em tertúlias animadas.


APM Colocas a hipótese de voltar a Portugal num futuro próximo?

JB De momento não coloco a hipótese de regressar a Portugal num futuro próximo, com o objectivo de trabalhar em arquitectura. No México encontro um país em desenvolvimento com várias hipóteses para o meu crescimento a nível profissional e pessoal e quero aproveitar da melhor forma o que tem para me ensinar.


APM Que conselhos deixas a quem pensa emigrar?

JB O meu primeiro conselho é que emigrem, acima de tudo é uma experiência enriquecedora a nível pessoal. Por outro lado, pensem bem que objectivo querem obter com a saída do país, para assim escolher o país e gabinete de arquitectura que mais se adequa ás expectativas pretendidas. Planear todos os pormenores com antecedência e prever todo tipo de situações, mais se o país de destino fica separado de Portugal por um oceano.

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A equipa do Portal Arquitectos Portugueses no Mundo, agradece ao Arquitecto João Barbosa a disponibilidade para a realização desta entrevista e a partilha do seu testemunho. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Exportar Arquitectos [SOL 19.07.2013]


Artigo no Semanário SOL de 19 de Julho de 2013, da autoria de Fernanda Pedro, com a participação dos Arquitectos Portugueses no Mundo (APM).

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Entrevista Integral APM [Diário Imobiliário 27MAI13]

Publicação da entrevista integral aos mediadores da página web «Arquitetos Portugueses no Mundo», realizada pela jornalista Fernanda Pedro para o Diário Imobiliário, em Maio de 2013. 
http://www.diarioimobiliario.pt/actualidade/arquitectos-a-procura-de-emprego-pelo-mundo/


FP Desde que abriu site tem acompanhado mais de perto esta saída de arquitectos de Portugal. Como tem sido esse crescimento do êxodo?

APM A causa para a emigração dos arquitetos portugueses encontra-se no número de arquitetos formados nos últimos anos que é muito superior às necessidades do mercado. O começo da Crise Económica levou à quebra do sector da construção e do imobiliário e consequente redução da encomenda de projetos de arquitetura. Este fato veio agravar a situação e reduzir o trabalho disponível para um número de arquitetos já de si excessivo e levou à crescente emigração destes técnicos. Apesar de não dispormos de dados estatísticos para caracterizar a emigração dos arquitetos portugueses, é possível afirmar que o desejo de emigrar, por forma a resolver a falta de trabalho, é crescente no meio e o número de emigrantes tem aumentado. Contudo, é necessário frisar que conseguir emprego no estrangeiro não é fácil e os arquitetos portugueses não são os únicos a emigrar. Daí que a emigração, embora ajude, não é a solução para o problema que se causou em Portugal com a formação de um número excessivo de arquitetos. 
 
 
FP Pelas experiências como se faz essa saída? Por um contrato de trabalho arranjado a partir de Portugal? Ou alguns vão sem perspectivas?
 
APM Para os arquitetos mais jovens o trabalho em empresas estrangeiras é conseguido maioritariamente através de candidatura espontânea ou de candidatura a ofertas via internet, tendo as candidaturas maior taxa de sucesso em empresas de arquitetura de autor. Já as grandes empresas internacionais de arquitetura comercial, muitas vezes ligadas a construtoras e promotores imobiliários, recrutam sobretudo arquitetos mais experientes. A situação mais comum de saída dos arquitetos portugueses para o estrangeiro é com contrato apalavrado ou assinado, ou pelo menos com entrevistas de trabalho agendadas. Contudo, há quem parta em busca de trabalho sem nada definido, os quais podem passar meses sem conseguir trabalho na área, por vezes conseguem e outras vezes regressam.
 
 


FP Quais as zonas do Mundo mais procuradas pelos arquitetos?
 
APM Atendendo aos membros da página web APM, que constituem uma amostragem significativa, podemos afirmar que a maioria dos arquitetos portugueses a trabalhar no estrangeiro encontra-se na Europa. São sobretudo estagiários e arquitetos jovens com poucos anos de experiência que se encontram principalmente na Suíça, seguido de países como a Inglaterra, França, Alemanha, Holanda e com menos destaque surgem alguns países nórdicos. A Espanha que acolhia um número considerável de arquitetos portugueses tem vindo a perder expressão devido à sua Crise Económica. Ultimamente tem-se também assinalado um crescente número de arquitetos jovens a emigrar para o Brasil. Os arquitetos com mais anos de experiência encontram-se sobretudo em países lusófonos, como o Brasil e Angola, e, embora com menos expressão, em países do Médio Oriente, como o Kuwait, Dubai, Qatar e Emirados Árabes Unidos, e da Ásia, como é o caso de Macau e China. 
 
 
FP E as que mais apresentam oportunidades para os jovens arquitetos portugueses?
 
APM Pela nossa experiência um arquiteto estagiário ou jovem poderá conseguir melhores condições e enquadrar-se com mais facilidade em empresas europeias. Após a conclusão do estágio ou do período de experiência será mais fácil permanecer nesse escritório ou nesse país, e então já como arquiteto começar a evoluir para fases de projeto de licenciamento, execução e obra. Contudo, devido ao abrandamento do crescimento económico na Europa, parece-nos razoável a aposta em economias emergentes da América do Sul, África, Médio Oriente e Ásia.
 
 
FP Compensa em termos financeiros?
 
APM Há que separar condições distintas. No estrangeiro, à semelhança de Portugal, existem estagiários não remunerados ou insuficientemente remunerados, contudo a maioria dos estagiários consegue pelo menos não ter prejuízo. Já um jovem arquiteto recebe geralmente o suficiente para fazer a sua vida e poupar no final do mês, neste caso e dependendo do país de destino as poupanças poderão ser boas se for colocada a hipótese do regresso a Portugal. Contudo, é importante ter em conta que um dos motivos que leva uma empresa a contratar um jovem arquiteto estrangeiro, para além das suas competências profissionais, é o facto de ser um trabalhador mais barato relativamente aos nativos. Por fim, um arquiteto com anos de experiência e qualificado, que apresenta um valor acrescentado há empresa, poderá conseguir um ordenado que lhe permite um bom nível de vida e poupanças elevadas.
 
 
FP Quais as vantagens que os arquitetos apontam para esta internacionalização?
 
APM Pela nossa experiência e dos muitos casos que temos conhecimento, sobretudo na Europa, os arquitetos primeiro que tudo realçam a qualidade das empresas ao nível dos recursos físicos, materiais e humanos, da organização, da gestão, dos níveis elevados de produção e da remuneração. São modelos organizacionais bastante superiores à generalidade dos que se encontram nas empresas portuguesas. Poder colaborar numa empresa com um modelo organizativo de qualidade e participar numa cultura arquitetónica e de projeto diferente da nossa são fatores que nos valorizam a nível pessoal e profissional.
 
 
FP E as desvantagens?
 
APM A nível pessoal poderá colocar-se em alguns momentos o sentimento de distância em relação a lugares, coisas e pessoas que são queridas no país de origem. O sentimento que nos liga à cultura do nosso país faz de nós estrangeiros. A nível profissional, e em caso de colocar-se a hipótese do regresso ao país de origem, cria-se um afastamento em relação à realidade local, clientes, parceiros, procedimentos burocráticos, legislação, etc..
 
 
FP Quais as principais dificuldades que costumam encontrar?
 
APM Cremos que o processo de adaptação é relativamente rápido e sem grandes dificuldades. Convém ter um fundo de maneio para o estabelecimento e para qualquer eventualidade. Poderá existir a questão da língua, e, embora o inglês ajude no início, é necessário aprender a língua local para o quotidiano e para progredir profissionalmente. Contudo, para um arquiteto jovem que cresceu na era da globalização e do mercado global, do Programa Erasmus, dos estágios e bolsas no estrangeiro e dos voos lowcost, a deslocação do seu país e permanência num outro para trabalhar é uma situação encarada com relativa naturalidade. Conhecemos também casos de arquitetos mais velhos que partiram para países exóticos e que estão satisfeitos com a decisão e com a mudança que deram à vida.
 
 
FP Como têm sido recebidos pelos países e ateliers que os contratam?
 
APM Os arquitetos portugueses são geralmente bem recebidos e respeitados pela empresa e pelos colegas, são colaboradores importantes na empresa. Este fato em muito se deve ao reconhecimento que a arquitetura portuguesa ganhou internacionalmente através de arquitetos como Álvaro Siza, Souto de Moura, Gonçalo Byrne, Carrilho da Graça, entre outros arquitetos mais jovens como Aires Mateus, e da qualidade da formação.
 
 
FP Como as redes sociais e um site como o que criou ajudam a estabelecer pontes e manter unida uma classe?
 
APM A página web APM é uma forma atual e prática para a comunicação e partilha de informação junto de um público alargado. Na página web reúnem-se arquitetos portugueses a exercer a profissão no país e no estrangeiro, outros que mudaram de profissão, estudantes, desempregados, e pessoas de outras áreas. Trabalhamos para que a página APM se afirme como uma referência e um espaço comum para a união da classe em torno do tema da emigração e do tema da internacionalização das empresas de arquitetura portuguesas. Pela adesão que a página web APM têm tido, cremos que o objetivo está a ser conseguido.
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