quarta-feira, 19 de junho de 2013

Entrevista Integral APM [Diário Imobiliário 27MAI13]

Publicação da entrevista integral aos mediadores da página web «Arquitetos Portugueses no Mundo», realizada pela jornalista Fernanda Pedro para o Diário Imobiliário, em Maio de 2013. 
http://www.diarioimobiliario.pt/actualidade/arquitectos-a-procura-de-emprego-pelo-mundo/


FP Desde que abriu site tem acompanhado mais de perto esta saída de arquitectos de Portugal. Como tem sido esse crescimento do êxodo?

APM A causa para a emigração dos arquitetos portugueses encontra-se no número de arquitetos formados nos últimos anos que é muito superior às necessidades do mercado. O começo da Crise Económica levou à quebra do sector da construção e do imobiliário e consequente redução da encomenda de projetos de arquitetura. Este fato veio agravar a situação e reduzir o trabalho disponível para um número de arquitetos já de si excessivo e levou à crescente emigração destes técnicos. Apesar de não dispormos de dados estatísticos para caracterizar a emigração dos arquitetos portugueses, é possível afirmar que o desejo de emigrar, por forma a resolver a falta de trabalho, é crescente no meio e o número de emigrantes tem aumentado. Contudo, é necessário frisar que conseguir emprego no estrangeiro não é fácil e os arquitetos portugueses não são os únicos a emigrar. Daí que a emigração, embora ajude, não é a solução para o problema que se causou em Portugal com a formação de um número excessivo de arquitetos. 
 
 
FP Pelas experiências como se faz essa saída? Por um contrato de trabalho arranjado a partir de Portugal? Ou alguns vão sem perspectivas?
 
APM Para os arquitetos mais jovens o trabalho em empresas estrangeiras é conseguido maioritariamente através de candidatura espontânea ou de candidatura a ofertas via internet, tendo as candidaturas maior taxa de sucesso em empresas de arquitetura de autor. Já as grandes empresas internacionais de arquitetura comercial, muitas vezes ligadas a construtoras e promotores imobiliários, recrutam sobretudo arquitetos mais experientes. A situação mais comum de saída dos arquitetos portugueses para o estrangeiro é com contrato apalavrado ou assinado, ou pelo menos com entrevistas de trabalho agendadas. Contudo, há quem parta em busca de trabalho sem nada definido, os quais podem passar meses sem conseguir trabalho na área, por vezes conseguem e outras vezes regressam.
 
 


FP Quais as zonas do Mundo mais procuradas pelos arquitetos?
 
APM Atendendo aos membros da página web APM, que constituem uma amostragem significativa, podemos afirmar que a maioria dos arquitetos portugueses a trabalhar no estrangeiro encontra-se na Europa. São sobretudo estagiários e arquitetos jovens com poucos anos de experiência que se encontram principalmente na Suíça, seguido de países como a Inglaterra, França, Alemanha, Holanda e com menos destaque surgem alguns países nórdicos. A Espanha que acolhia um número considerável de arquitetos portugueses tem vindo a perder expressão devido à sua Crise Económica. Ultimamente tem-se também assinalado um crescente número de arquitetos jovens a emigrar para o Brasil. Os arquitetos com mais anos de experiência encontram-se sobretudo em países lusófonos, como o Brasil e Angola, e, embora com menos expressão, em países do Médio Oriente, como o Kuwait, Dubai, Qatar e Emirados Árabes Unidos, e da Ásia, como é o caso de Macau e China. 
 
 
FP E as que mais apresentam oportunidades para os jovens arquitetos portugueses?
 
APM Pela nossa experiência um arquiteto estagiário ou jovem poderá conseguir melhores condições e enquadrar-se com mais facilidade em empresas europeias. Após a conclusão do estágio ou do período de experiência será mais fácil permanecer nesse escritório ou nesse país, e então já como arquiteto começar a evoluir para fases de projeto de licenciamento, execução e obra. Contudo, devido ao abrandamento do crescimento económico na Europa, parece-nos razoável a aposta em economias emergentes da América do Sul, África, Médio Oriente e Ásia.
 
 
FP Compensa em termos financeiros?
 
APM Há que separar condições distintas. No estrangeiro, à semelhança de Portugal, existem estagiários não remunerados ou insuficientemente remunerados, contudo a maioria dos estagiários consegue pelo menos não ter prejuízo. Já um jovem arquiteto recebe geralmente o suficiente para fazer a sua vida e poupar no final do mês, neste caso e dependendo do país de destino as poupanças poderão ser boas se for colocada a hipótese do regresso a Portugal. Contudo, é importante ter em conta que um dos motivos que leva uma empresa a contratar um jovem arquiteto estrangeiro, para além das suas competências profissionais, é o facto de ser um trabalhador mais barato relativamente aos nativos. Por fim, um arquiteto com anos de experiência e qualificado, que apresenta um valor acrescentado há empresa, poderá conseguir um ordenado que lhe permite um bom nível de vida e poupanças elevadas.
 
 
FP Quais as vantagens que os arquitetos apontam para esta internacionalização?
 
APM Pela nossa experiência e dos muitos casos que temos conhecimento, sobretudo na Europa, os arquitetos primeiro que tudo realçam a qualidade das empresas ao nível dos recursos físicos, materiais e humanos, da organização, da gestão, dos níveis elevados de produção e da remuneração. São modelos organizacionais bastante superiores à generalidade dos que se encontram nas empresas portuguesas. Poder colaborar numa empresa com um modelo organizativo de qualidade e participar numa cultura arquitetónica e de projeto diferente da nossa são fatores que nos valorizam a nível pessoal e profissional.
 
 
FP E as desvantagens?
 
APM A nível pessoal poderá colocar-se em alguns momentos o sentimento de distância em relação a lugares, coisas e pessoas que são queridas no país de origem. O sentimento que nos liga à cultura do nosso país faz de nós estrangeiros. A nível profissional, e em caso de colocar-se a hipótese do regresso ao país de origem, cria-se um afastamento em relação à realidade local, clientes, parceiros, procedimentos burocráticos, legislação, etc..
 
 
FP Quais as principais dificuldades que costumam encontrar?
 
APM Cremos que o processo de adaptação é relativamente rápido e sem grandes dificuldades. Convém ter um fundo de maneio para o estabelecimento e para qualquer eventualidade. Poderá existir a questão da língua, e, embora o inglês ajude no início, é necessário aprender a língua local para o quotidiano e para progredir profissionalmente. Contudo, para um arquiteto jovem que cresceu na era da globalização e do mercado global, do Programa Erasmus, dos estágios e bolsas no estrangeiro e dos voos lowcost, a deslocação do seu país e permanência num outro para trabalhar é uma situação encarada com relativa naturalidade. Conhecemos também casos de arquitetos mais velhos que partiram para países exóticos e que estão satisfeitos com a decisão e com a mudança que deram à vida.
 
 
FP Como têm sido recebidos pelos países e ateliers que os contratam?
 
APM Os arquitetos portugueses são geralmente bem recebidos e respeitados pela empresa e pelos colegas, são colaboradores importantes na empresa. Este fato em muito se deve ao reconhecimento que a arquitetura portuguesa ganhou internacionalmente através de arquitetos como Álvaro Siza, Souto de Moura, Gonçalo Byrne, Carrilho da Graça, entre outros arquitetos mais jovens como Aires Mateus, e da qualidade da formação.
 
 
FP Como as redes sociais e um site como o que criou ajudam a estabelecer pontes e manter unida uma classe?
 
APM A página web APM é uma forma atual e prática para a comunicação e partilha de informação junto de um público alargado. Na página web reúnem-se arquitetos portugueses a exercer a profissão no país e no estrangeiro, outros que mudaram de profissão, estudantes, desempregados, e pessoas de outras áreas. Trabalhamos para que a página APM se afirme como uma referência e um espaço comum para a união da classe em torno do tema da emigração e do tema da internacionalização das empresas de arquitetura portuguesas. Pela adesão que a página web APM têm tido, cremos que o objetivo está a ser conseguido.
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