segunda-feira, 12 de novembro de 2012

E se a escola fosse a sério?

O ano lectivo começou há pouco mais de dois meses. 
Este ano, muita coisa está diferente, e possivelmente muita ainda mudará até ao seu termo. 
Temos notícias de alunos em greve devido ao decréscimo de qualidade e à consequente desidratação intelectual dos seus cursos, notícias de cursos com menos de dez alunos na iminência de fechar portas, e ainda, notícias frequentes de alunos que desistem dos seus cursos por falta de capacidade económica. 

Refiro-me apenas às notícias sobre os cursos de arquitectura em Portugal, que vão enchendo jornais, revistas e redes sociais, apesar de a realidade ser bastante parecida noutras áreas. 
Todas estas más notícias são amplamente difundidas e comentadas, devidamente lamentadas, sem que contudo, se encontre grande preocupação em entender as razões da sua origem ou futuras consequências. 
A crise poderá ser uma oportunidade, não uma fonte de oportunidades de negócios da china e de rápido enriquecimento, mas pelo menos, deverá ser uma oportunidade para pensar no que temos, no que não funciona bem, e em formas criativas e sustentadas de inverter a situação que se degradou. 
Poderá ser a oportunidade e o momento certo de nos reinventarmos.


Le Corbusier, Atelier, 35 rue de Sèvres, Paris (© Willy Rizzo - Fonte: www.lejournaldelaphotographie.com)

Apesar deste cenário pouco animador, se observarmos o que se produz nas universidades, um conjunto de trabalhos e projectos académicos realizados pelos alunos, tudo não passa de lixo. Não me refiro, obviamente, à qualidade dos trabalhos ou dos alunos e professores, ou à pertinência dos enunciados, mas sim à inexistência de qualquer repercussão ou contributo para fora da escola. Todo ou quase todo o trabalho desenvolvido pelos alunos, fica arrumado em gavetas ou discos rígidos, apenas para mais tarde recordar. A culpa não e dos alunos. 
E poderá não ser assim. 

Vejamos, as escolas têm uma potencialidade de trabalho enorme, possuem instalações capazes, corpo docente qualificado e uma enorme massa intelectual dinâmica e cheia de vontade de trabalhar, que são os alunos. Tudo junto, pode resultar num laboratório de ideias e experimentação. 
Resta apenas pensar além da caixa, criar parcerias com as autarquias, empresas e instituições internacionais, e direccionar grande parte do trabalho académico para um objectivo comum, ou seja, que um conjunto de contributos individuais possa formar um todo, coordenado e desenvolvido amplamente pelo corpo docente e discente. 
Obviamente, que a escola deverá ser pro-activa e selectiva, não poderá o ensino ficar refém dos interesses e do âmbito dos trabalhos, deverá ser a escola a procurar e propor os trabalhos de acordo com os seus programas académicos. 
Um entrosamento mais abrangente da escola / faculdade de arquitectura com a sociedade / país, poderá permitir além da criação de novas fontes de receitas, oferecer aos alunos um ensino mais interessante e envolvente, com maiores componentes praticas e acima de tudo, um curriculum vitae mais interessante, mais profissional e não menos académico, instrumentalizando melhor os alunos para a diversidade que a profissão possibilita e exige actualmente. E, acima de tudo, permite uma contribuição substancial para o desenvolvimento de uma discussão seria e profunda necessária sobre a produção arquitectónica e a qualidade urbana de Portugal. 

A escola deverá ser sempre um lugar de experimentação, de cultura e aprendizagem, como tal, deverá ser uma referência de massa intelectual para o desenvolvimento da sociedade e da economia. 
Seria possível e desejável, que as instituições de ensino permitissem aos seus alunos, que o seu trabalho, pudesse ser algo mais que uma simulação do real. apm
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Vítor Rocha
vitorrocha@mail.com 

O portal Arquitectos Portugueses no Mundo, agradece ao autor a sua colaboração.
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