terça-feira, 31 de julho de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Arquitectos no programa Portugueses pelo Mundo: Santiago do Chile
Alguns testemunhos de Arquitectos e Estudantes, no programa da RTP Portugueses Pelo Mundo.
Santiago do Chile
domingo, 29 de julho de 2012
Arquitectos no programa Portugueses pelo Mundo: Singapura
Alguns testemunhos de Arquitectos e Estudantes, no programa da RTP Portugueses Pelo Mundo.
Singapura
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Portugal, a Arquitectura, os Arquitectos, a Emigração e o Futuro
Muito
se tem falado de emigração, arquitectos, arquitectura e futuro. Contudo,
pouco ou nada se discute além da emergência e a crise que veio desferir um
forte golpe num dos mais frágeis sectores da economia portuguesa, desde há
muito tempo expectável.Por
isso, neste primeiro artigo proponho-me tentar uma reflexão inicial, pessoal e
critica sobre o estado da arquitectura,
uma espécie de panorâmica sobre os temas discutidos actualmente nos meandros do
mundo da arquitectura portuguesa.
Muito se tem falado de emigração, arquitectos, arquitectura e futuro. Contudo, pouco ou nada se discute além da emergência e a crise que veio desferir um forte golpe num dos mais frágeis sectores da economia portuguesa, desde há muito tempo expectável.Por isso, neste primeiro artigo proponho-me tentar uma reflexão inicial, pessoal e critica sobre o estado da arquitectura, uma espécie de panorâmica sobre os temas discutidos actualmente nos meandros do mundo da arquitectura portuguesa.
Vaivém Foi-se, autor: Rodrigo. Fonte: expresso.sapo.pt |
1.PASSADO, PRESENTE E PORQUÊ
EMIGRAR
O
percurso até aqui é simples. Abrandamento (estancamento) do investimento público,
quebra abrupta do financiamento ao sector privado, crescimento exponencial do
número de profissionais de arquitectura e a desidratação constante dos honorários.Visto
de outra forma, em 10 anos, assistimos à formação de cerca de dez mil (10000)
arquitectos, ou seja, quase a duplicação do número de profissionais,
acompanhada de um decréscimo da quantidade de trabalho e talvez também da sua
qualidade.A
emigração não é pois uma opção, torna-se inevitável para uma parte e reflexo da
auto-regulação do mercado e das oportunidades de trabalho existentes.
2.O NOVO PARADIGMA, VELHOS
PRÉ-CONCEITOS
Esta
nova conjuntura poderá ser um indicador de mudança e deverão os arquitectos
saber interpreta-la.Estaremos
perante um novo paradigma para os arquitectos? Talvez.
Vejamos.
O percurso clássico de um arquitecto seria após anos de colaboração e
experiência, ter o seu próprio escritório e fazer os seus próprios projectos. O
problema é... que projectos?
Emigração,
poderá ser a solução instantânea, mas contudo não toca no cerne da questão, a
circunstância que implica a emigração.Não
quer isto dizer, que a solução deverá ser reclamada apenas aos arquitectos e muitos
menos dos recém-formados, mas sim, de todo o conjunto plural que faz parte da
cadeia económico-cultural da arquitectura.Caberá
aos arquitectos, reinventarem-se e encontrar novas dinâmicas de trabalho e de
acesso ao trabalho, implicando assim superar alguns complexos estabilizados ao
longo dos tempos.
Do complexo da autoria
A
ideia de trabalhar sozinho, potenciada pelo desejo tentador da autoria, implica
geralmente estruturas de dimensão reduzida e menor capacidade de resposta aos
problemas arquitectónicos. Ultrapassada a questão de uma autoria mais ou menos
singular, poderão os arquitectos criar plataformas de trabalho e criação mais
alargadas, assim como, gerar sinergias, que permitirão ampliar a capacidade e
competências para responder a desafios mais exigentes, noutros contextos e
escalas.
Do complexo artístico/empresarial
A figura empresa é por vezes uma palavra adversa, gera uma espécie de irritação e entra em conflito com uma possível existência artística. Empresarial e comercial são coisas distintas.
Do complexo do passado
Dificilmente o futuro será como o passado. Assumida uma ruptura não fatalista com os moldes clássicos da prática profissional poderão ser repensados os campos de actuação e alargados, assim como reclamados novos domínios para a arquitectura. Surgirão naturalmente formas menos convencionais de prática profissional, mas não menos interessantes e estimulantes.
Da utopia da internacionalização e exportação
Este é outro tema muito falado e apontado como solução para dar a volta a crise. Contudo e apesar de crescentes os registos de internacionalização, são ainda em parco número.Talvez nunca tenha sido necessário e facilmente se percebe que o grosso dos escritórios não tem a dimensão necessária para cumprir as exigências contractuais de muitos concursos internacionais. Por outro lado, os novos contextos de operação implicam um esforço de compreensão e actualização, implicando por vezes a necessidade de ultrapassar os academismos e mecanismos conceptuais a que estamos habituados.
3.O FUTURO E O REGRESSO? QUE
PROBLEMAS RESOLVER ATÉ LÁ?
Entretanto
o que pode ser feito em Portugal? Poderá a arquitectura portuguesa algum dia
oferecer uma alternativa de trabalho aos milhares de recém-formados e aos
futuros formados? Possivelmente sim, ajudaria se resolvêssemos alguns dos
nossos problemas clássicos.
Dos Portugueses, do sarrabisco e do Inglês ver
Há
uma cultura generalizada que um projecto de arquitectura não passa de sarrabisco para não haver chatices com
aqueles tipos (câmaras, etc). Outra é, o
projecto é um papel para aqueles tipos verem e não o que se vai construir,
ou seja, para o inglês ver.Ora,
isto só acontece porque grande parte dos portugueses nunca foram sensibilizados
para receber arquitectura e entender
que esta pode ser um bem necessário. Acontece também por inoperância e pouca
objectividade da legislação, que não favorece factores como a qualidade do
espaço e qualidade urbana, e por fim, diga-se, por culpa dos arquitectos que não
souberam ao longo dos tempos lutar por esse respeito, não obstante, o grande
contributo prestado por profissionais de varias áreas científicas, ao abrigo
provisório decreto-lei 73/73, apenas revogado em 2009.
Da arquitectura low cost
Outro
problema generalizado é a assinatura
e o projecto standard, feitos e adaptados ao metro e pagos pelo número de
folhas A4 inseridos numa capa branca.
Esta
prática não se coaduna com a ética profissional e por vezes ultrapassa a
legalidade, mas o mais importante, é que não contribui para a melhor qualidade
da arquitectura nem das condições de trabalho, e antes pelo contrário,
sedimenta e consolida este tipo de acções e comportamentos, desvalorizando o
valor do trabalho e da classe profissional.
Dos políticos visionarios e lunáticos
De todos, este é o mais preocupante. É surreal que a democracia permita, que um (e um só por vezes) político visionário vindo de outras galáxias do saber, se aventure em pleno exercício das suas funções, decidir o futuro de aldeias, cidades ou até do país, a sua estratégia urbana e territorial. Ou seja, falamos dos atropelos, avanços e recuos da gestão urbana, das construções megalómanas que são apenas o sonho de um político empenhado em mostrar obra, muita dela sem qualquer sentido de existência nem fundamentada em estudos sérios sobre a sua utilidade e consequência.Os arquitectos podem e devem reclamar um papel importante na democrática discussão do nosso território e estratégias urbanas, assim como, na gestão e incorporação dos contributos de outros pontos de vista científicos.
Do mito da recuperação
Apontada
como uma das grandes soluções para o futuro, não deixa de ter pertinência a sua
referência.Os
centros históricos degradados são
apenas consequências políticas, de longos e bons anos de construção desordenada, que engordou sucessivamente as receitas do
estado (impostos e afins) e claro, todo o sector ligado a esta actividade.
Com
isto, foram-se perdendo quase todas as condições e vantagens da cidade tradicional.
Contudo existem algumas excepções e ainda bem.A
recuperação (entenda-se que não se trata do exercício de demolição e
preservação de fachadas) poderá ser a tendência
para este decénio, desde que, as mesmas entidades e interesses que retiraram a
vida orgânica das cidades, criem agora as condições para que a cidade volte a
ser local de eleição para habitar com qualidade. E não chegará apenas legislar,
mas sim não continuar com o desinvestimento nos transportes públicos,
segurança, economia, entre outros.
Das universidades de vão de escada
Mais
uma situação incompreensível. Florescem cursos de arquitectura em Portugal,
disponibilizando um número de vagas muito acima daquilo que o mercado de
trabalho pode absorver.
É
acima de tudo uma situação injusta para os alunos e mais um contributo para a
banalização e desvalorização do ensino e da profissão.
Da regulação
Há
muito que se fala da necessidade da existência de uma tabela de referência para
cálculo de honorários de arquitectura, até pode vir a ser uma ferramenta útil e
um passo importante, principalmente no momento em que o valor do trabalho
desvaloriza diariamente. Contudo, espera-se da Ordem dos Arquitectos um papel
preponderante na defesa da qualidade da arquitectura, competências que se
deveriam estender não só da regulação do acesso à profissão mas também da
regulação do tipo e conteúdos da oferta pública, um espécime em vias de
extinção.
O fenómeno de emigração recente deverá ser o mote necessário para olhar-mos para dentro, hoje mais do que nunca, faz sentido discutir a arquitectura portuguesa, entre arquitectos e a sociedade. apm
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Vítor Rocha
vitorrocha@mail.com
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